segunda-feira, 5 de julho de 2010

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA

Mariane de Macedo

Outro dia recebi um e-mail de uma colega, que falava sobre o NÃO que Eloá dera ao namorado, ambos protagonistas das cenas que acompanhamos há algumas semanas pelos telejornais. Falava a colega neste e-mail que, antes do NÃO de Eloá faltaram muitos outros, que não foram ditos a Lindemberg na infância, dando-lhe limites.
Concordo com a colega, pois a falta de limite é uma das primeiras características apresentadas pela personalidade transgressora. A conduta do rapaz caracteriza uma personalidade psicopata, que não pode ser contrariada e não reconhece o outro como alguém que sente e pensa. Ao se sentir injustiçado perante a rejeição, toma uma atitude violenta e vingativa.
Independente de raça, cultura, credo, gênero ou nível social o psicopata pode se camuflar de trabalhador, executivo, político, pai, mãe, filho (a), esposo (a), sogra (embora muitos acreditem que todas sejam), cunhadas e outros.
A palavra psicopata vem do grego Psyque = mente, pathos = doença = doença da mente. Embora etimologicamente a designação apareça como doença da mente, o psicopata não provém de mente adoecida, mas sim de um raciocínio frio e calculista combinado com uma total incapacidade de tratar as outras pessoas como seres humanos pensantes e com sentimentos, segundo a Dra. Ana Beatriz Silva.
Para Dr. Robert Hare, psiquiatra canadense, uma das maiores autoridades sobre o assunto, “os psicopatas tem total ciência dos seus atos, pois a parte cognitiva e racional é perfeita, ou seja, sabem perfeitamente que estão infringindo regeras sociais e por que estão agindo dessa maneira.” A deficiência deles (e é ai que mora o perigo) está no campo dos afetos e das emoções. Assim, para eles, tanto faz ferir, maltratar ou até matar alguém que atravesse o seu caminho ou os seus interesses, mesmo que este alguém faça parte de seu convívio íntimo.
São criaturas inescrupulosas, dissimuladas, mentirosas, sedutoras e que visam o próprio benefício. Incapazes de estabelecer vínculos afetivos, portanto jamais reconhecem a existência do outro. Desprovidos de culpa ou remorso. Revelam-se agressivos e violentos quando são flagrados em erro e sentem-se sem saída.
Ao contrário do que a maioria pensa, o psicopata nem sempre está preso e é aquele que mata fisicamente. Entretanto está sempre pronto a matar psicologicamente. Pois, para conseguir seus objetivos utiliza-se de todas as armas. A mais comum é despertar no outro pena, pois sabe que ao sentirmos pena ficamos suscetíveis a cair na sua armadilha. Embora não sinta, ele racionalmente entende como é o sentimento e vê como as pessoas se comportam quando estão com pena, então ele mimetiza, inclusive com lágrimas copiosas, fazendo sua vítima acreditar na suposta angústia. Às vezes, não nos damos conta da sutileza, por exemplo: quando encontramos alguém meio descansado, que não quer pegar no batente, justificando que as coisas estão difíceis. Que se não receber ajuda morrerá, ou ficará doente, ou que não tem mais idade para trabalhar, ou ainda, que tem que ficar em casa para cuidar dos pais velhinhos. Atenção! Pois este comportamento aparentemente inofensivo esconde uma pessoa dissimulada e que deseja que os outros laborem por ela. Fica escorada, come, bebe, se pendura ao telefone, aluga o computador por longas horas, visando atender suas necessidades, em detrimento das do outro. Adepto a lei do menor esforço crê ser merecedor de tais deferências, que uma vez feitas como favor, passam a serem regras eternamente exigidas.
Além disto, é o eterno perseguido. Todas as pessoas acordam de manhã prontas para lhe incomodar. Acredita que o mundo gira em torno de si, e que todos estão dispostos a montar estratégias de guerrilha, ou seja, ninguém trabalha. Esta crença do psicopata também está ligada a necessidade de excitação, pois são intolerantes a situações rotineiras. Não conseguem exercer tarefas que demandem alta concentração. Geralmente são provocantes e gostam de instigar os outros pelo mero prazer de divertimento imediato. Adoram gerar sentimentos negativos, se comprazem quando o outro sente raiva (sentimento mais comum nas pessoas próximas).
Desta forma, a convivência com um psicopata é uma verdadeira tortura. O grau de exigência exacerbado faz com que as pessoas deixem a condição humana para assumir o papel de super-herói, no intuito de atendê-los. Mas, mesmo que suas expectativas sejam cumpridas, ainda assim, não é suficiente pelo seu vazio de significado de que são portadores. Os outros não podem errar “jamais”, em relação a ele (psicopata). Acreditam que a ação do outro foi premeditada, intencional e com objetivo de humilhá-lo, projetando a própria conduta. Mesmo que a pessoa se explique e peça desculpa, não aceita pelo sentimento de injustiça que lhe acompanha. Entretanto, quando aplica as mesmas ações atribui ao exagero do outro. Jamais pedindo desculpas, pois considera que não erra. Adora fazer o outro se sentir culpado e geralmente coloca-se como vítima em situações que foram premeditadas por ele, e para que fique mais evidente sua inocência, expõe a todos o erro alheio.
Cada um de nós conhece ou conhecerá alguma dessas características, em uma ou mais pessoas durante sua existência. Muitos já foram manipulados por elas, alguns vivem forçosamente com as próprias e outros tentam reparar os danos materiais e psicológicos por elas causados. Assim, quando assistimos a personagem Flora (atual novela das vinte horas), astuta, manipuladora, sedutora, fazendo intrigas, já reconhecemos que não é característica apenas dos folhetins. Portanto, precisamos de um manual de sobrevivência para com os psicopatas que andam soltos por ai e, estabelecermos mais “NÃOS” para que outros não se construam.

Um comentário:

  1. Sem palavras, vc sabe mesmo o que diz. Só quem ja passou por uma situação com pessoas psicopatas pra entender a capacidade de fingimento delas. É tudo isso mesmo.

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