domingo, 25 de julho de 2010

“ Mil gracias”


                                                                                                            Mariane de Macedo
                                                                                                            21 de julho de 2010 

Passados trinta dias da partida de nosso colega Valton, lembrei que no ano de 2004 estivemos juntos em uma convivência que ainda guardamos na intimidade. Éramos dez colegas: Carlos Alberto, Dina, Francelina, Ivete, Mariane, Mário Eugênio, Norton, Renato, Valton e Zilah, além de Alcy, nosso mestre. Durante as manhãs de sábado líamos nossos textos e ouvíamos os dos colegas, dos quais ficávamos curiosos para saber o desenrolar de cada personagem. Ao término da oficina a coroação do trabalho, que juntos construímos: “Caçapava Contando Histórias”.

Geralmente formamos um pensamento de que as coisas são por acaso, no entanto o acaso não existe quando se busca algo que é comum. E no nosso caso, o gosto pela literatura, pelo aprendizado, pela leitura permitiu que estivéssemos juntos, por um período de oito meses, formando este grupo.

Olhei uma fotografia nossa e senti uma nostalgia e, então fiquei me perguntando. Será que perdemos o gosto pela literatura, aprendizado ou pela leitura? Tenho certeza que não. No entanto, fizemos parte uns da vida dos outros, nos sentimos bem juntos, mas só nos encontramos eventualmente. O que será que aconteceu conosco? Perdemos a sensibilidade? Para responder a tantos questionamentos lancei mão dos sentimentos que me ocorriam.

O primeiro foi a saudades, de algumas pessoas das quais tivemos um enorme prazer em conviver e, quando foram embora sentimos muita falta, pois gostaríamos que permanecessem conosco, só mais um pouquinho. Segundo, a impotência diante da realidade da vida, que nos convida ao aprendizado, às vezes doloroso, onde não temos tempo de nos despedir dos nossos amores, que partem sem aviso prévio. E o último a raiva, tão difícil de admitirmos, pois sempre a percebemos como ruim*. Ela aparece quando sabemos que todos nós iremos partir e, de nunca estarmos com a mala pronta. Mas será que conseguimos pensar nas coisas que deveríamos fazer antes de partir? tais como: de abraçarmos as pessoas diariamente, de falarmos o quanto necessitamos delas, de não termos vergonha de demonstrar afeto e de ligarmos para aqueles aos quais compartilhamos momentos maravilhosos, como foram os nossos.

E, ainda, tentando achar resposta a esses questionamentos, peguei o nosso livro “Caçapava Contando Histórias”, e comecei a ler nossas apresentações, mas fiz questão de ler a do nosso colega Valton. Ele começa demonstrando o orgulho de sua origem gaúcha, o amor ao pai que a pouco havia partido. O amor a mãe a qual caracterizava como alguém forte, mas dócil. Além disto, agradece-os pela herança do estudo e de ser gaúcho. Fala dos irmãos, onde cita nominalmente cada um, demonstrando a importância destes em sua vida. Retrata uma personalidade que valoriza a simplicidade e a constância de atitudes. Diz que foi para a oficina com os tentos, mas com o Alcy e os colegas aprendeu a guasqueá-los. “A eles, mil gracias”.

O Chirú deixou uma bela lição antes de partir, como um sinal para as nossas vidas: de que devemos ser o que sentimos. Ninguém mais que ele registrou tão claramente isto, escrevendo abertamente o que sentia pela família. Seus valores, origem, afeto, construiu uma história curta, mas plena e rodeada de amor.

E para que a vida, se não for para construir o amor? Este sentimento que aparece em pequenos sinais, como nas palavras faladas ou escritas, gestos, olhares, telefonemas, apertos de mão, beijos e tantos outros. A ti, querido Chirú, que o Patrão velho do céu abra as porteiras e que aqueles que te recebem tirem os seus chapéus, pois o teu sinal respondeu as nossas perguntas. “Mil gracias.”



*Não existem sentimentos bons ou ruins, pois sentir é saudável. O negativo é o que fizemos com o que sentimos, ou não sentirmos nada.

OBS: Aos colegas que compartilham dos mesmos sentimentos, entrem em contato: marianemacedo@hotmail.com



2 comentários:

  1. Mariane adorei teu desabafo! acho que a natureza humana não foi criada para aceitar a despedida...

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  2. Liziane acho que devemos aceitar todas as coisas que a vida nos coloca, no entanto, precisamos saber que, inclusive, a despedida não dá aviso prévio. Portanto, penso que devemos fazer o melhor possível para darmos o melhor de nós, sempre a quem quer que seja. E Te agradeço, pois você está fazendo isso: dando muito de você ao acompanhar este blog e comentar. Foi bom te encontrar pelos motivos aos quais já citei no orkut. Um abraço

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